terça-feira, 17 de março de 2009

Clodovil foi um dos pilares da "alta-costura brasileira"

Quando Clodovil Hernandes candidatou-se a deputado federal, houve muita piada e gente torcendo o nariz. O apresentador de televisão, que não tinha papas na língua e foi o terceiro candidato mais votado do estado de São Paulo, tornou-se mais conhecido pelas opiniões controversas e seu jeito extravagante do que pelo seu "metier" inicial: a moda.

Nascido na cidade de Elisário, em São Paulo, em 1937, e tendo vivido sua infância e juventude no interior paulista, sempre sonhando e desenhando, Clodovil recebeu fama e carinho da sociedade brasileira a partir dos anos 60 com a profissão de estilista, ou melhor "costureiro", como eram chamados os criadores de moda da época. Aos 17 anos, ganhou um concurso e teve um vestido seu confeccionado e publicado nas páginas da revista "Radiolândia".
A mudança para São Paulo aconteceu por vontade de estudar Filosofia, mas seu gosto pelo desenho falou mais alto. Logo, começou a vender seus esboços para as lojas de moda e arranjou um emprego em uma butique sofisticada, local em que Dener, outro estilista famoso na época, já havia trabalhado. Já no início da carreira, ainda jovem, Clodovil conquistou muitos prêmios e agradou a imprensa especializada, com seu talento e desenho solto, cheio de estilo. Talvez tenha se originado aí a rivalidade com Dener, que havia chegado primeiro ao cenário da moda nacional e viu seu trono ameaçado. Apesar de criativo e ousado, Dener tinha um desenho duro e sem charme, que evidentemente não podia ser comparado aos traços seguros e livres de Clodovil. Pelo que se comenta, no começo da carreira, Clodovil era agradável e simpático, o que o ajudou a conquistar o coração de muitas senhoras poderosas da sociedade paulista, que não se adaptavam ao estilo dramático e personalista de Dener.
Foram também seu carisma e inteligência que o tornaram popular quando participou do programa de perguntas "8 ou 800", da Globo, respondendo sobre Dona Beija, personagem polêmica que inspirou novela de mesmo nome na extinta TV Manchete. Sua empatia com o público e sua facilidade no desenho ainda o levaram ao ar no "TV Mulher", programa em que desenhava modelos exclusivos para cada telespectadora, solucionando pequenos dilemas pessoais. "Querido Clodovil, minha filha vai se casar à noite e preciso de um modelo que fique bem em mim. Tenho 50 anos, pele e cabelos claros e estou um pouquinho fora da forma, etc. e tal.", dizia dona Celina, do Tatuapé. E lá ia ele, com um desenho rápido e gostoso, fácil e demodê, resolver o problema dela e de outras brasileiras em apuros fashion. Clodovil tinha orgulho de poder compartilhar sua "finesse" com o povão, como ele mesmo gostava de deixar claro. Desta maneira, foi ganhando a confiança de milhares de fãs, que o viam compartilhar o cenário com um "requintado" arranjo de flores.
Passando da moda para o estilo de vida, e do estilo de vida para a vida alheia, tornou-se um palpiteiro profissional, cheio de opiniões, que achava que sabia de tudo. Abusando do lugar-comum e do pensamento retrógrado, foi conquistando a confiança de uma população carente por ser ouvida e, ao mesmo tempo, necessitada de fórmulas prontas e soluções "fast food".
Clodovil foi um dos pilares do que se chamou "alta-costura brasileira", numa época em que a indústria têxtil prosperava no país e a reduzida alta sociedade se espelhava nos modos europeus, enquanto a nação vivia uma das fases mais duras da política nacional. Com uma história da moda raquítica como a nossa, é uma pena que tenhamos perdido o talentoso "costureiro" Clodovil, figura importante para o desenvolvimento da criação da moda e do estilo nacional, para o palpiteiro "Clodovéia", como costumava chamá-lo o Macaco Simão, apelido do colunista José Simão, da Folha de S. Paulo.



Fonte UOL estilo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário